domingo, 28 de junho de 2015

As Intermitências da Morte, de José Saramago

Postado por Camila Mumic às 13:29
Sabe aquele livro que marca a sua vida pra sempre? Um livro que te modifica tão profundamente que você consegue sentir, ainda que sutilmente, que ele se tornou parte de quem você é e de tudo o que você pensa? Não? Eu também não sabia antes de ler “As Intermitências da Morte”, de José Saramago.



O livro é dividido em duas partes: primeiro, Saramago descreve um país em que a Morte resolveu parar de matar e seus motivos pra tomar essa decisão. Daí vocês podem imaginar o caos que foi instalado nesse lugar. Ninguém mais morria, os velhos e doentes permaneciam velhos e doentes, o Estado começa a ter problemas para lidar com o assunto, as igrejas não sabem como explicar o fenômeno. Todos começam a entender a importância da morte, inclusive o leitor.

“No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada”.

Dada a insatisfação geral do povo daquele país, a Morte, portanto, resolve avisar o momento em que a pessoa vai morrer enviando a ela uma carta com uma semana de antecedência: a carta de cor violeta. Como vocês podem imaginar, a solução também não agrada a todos e a Morte começa a ser procurada pela polícia local, já que o desespero gerado na população, que agora sabe exatamente o dia em que vai morrer, é generalizado.

A segunda parte do livro começa quando uma dessas cartas é devolvida. E não importa quantas vezes a Morte envie a carta, ela é devolvida novamente. Portanto, ela resolve solucionar esse problema de maneira inusitada: se transfigura em mulher e vai ao encontro da pessoa a quem a carta era destinada. A narrativa, a partir daí, é tão poética que me deixou profundamente comovida. É difícil descrever como o livro fica bonito e sutil nessa parte. Terminei o livro apaixonada pela Morte.

Algumas pessoas afirmam que essa parte do livro é clichê, que é uma narrativa “hollywoodiana”, e até mesmo que o Prêmio Nobel fez mal a Saramago e que o fez flertar com o “mainstream”. Eu não concordo com isso. Eu acho que a poesia com que o autor encerra “As Intermitências da Morte” não é nada hollywoodiana. É um livro tão maravilhoso que faz pensar e que faz chorar. É uma obra capaz de modificar o leitor e que certamente operou mudanças muito significativas na minha forma de pensar sobre a morte.

Certamente é um livro que eu indico a todas as pessoas. Assim que você se acostuma com a linguagem de Saramago – e eu sei que não é fácil, principalmente para pessoas que não estão tão habituadas a ler – você é apresentado a um universo literário totalmente diferente. Além de ser um autor de língua portuguesa e de ter sido contemplado com um Prêmio Nobel de Literatura, sem dúvida é um dos escritores mais geniais que eu já li.


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